domingo, 5 de dezembro de 2010

Bolo

Ingredientes
3 ovos;
3 colheres de farinha de trigo;
3 colheres de açúcar;
3 colheres de achocolatado (Nescau);
1 colher de fermento biológico.

Modo de preparo
Bata as claras em neve. Adicione as gemas, a farinha peneirada, o achocolatado e o açúcar, pouco-a-pouco, e mistura levemente de baixo para cima. Ponha em uma forma de bolo inglês untada e deixe assar por 25-30min.

Obs.: Tire o chocolate e terá a receita básica de um pão-de-ló.
Obs. 2: Nunca altere a proporção de uma receita de bolo, ou o resultado será desastroso.
Obs. 3: As claras tem que estar em N-E-V-E!

Primeiro texto

Desocupado leitor, li isso uma vez no meu volume único da obra de Cervantes, Don Quijote. Achei tão divertida a forma de tratamento que o autor dá ao seu leitor. Para mim incomum, não soou como uma ofensa, nada disso. Despertou, pois sim, uma vontade de enfrentá-lo, prová-lo que não sou desocupado, e deixei o livro de canto para fazer outra coisa qualquer. Retirei novamente o monstruoso livro de mil páginas em espanhol arcaico que comprei, sou um desocupado leitor, e ele, um desocupado autor.
Mas são todos os autores desocupados, então? Cervantes produziu sua obra no cárcere, dia e noite escrevia em devaneios a louca história do Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha. É isso então. Uma fuga, sim a fuga da realidade, a fuga do ser. Assim como a partir do momento que nos sentamos na poltrona mais confortável da casa, nos aconchegamos mesmo, abrimos um calhamaço de papel, podem ser sei lá, dez, vinte, quinhentas, mil páginas buscamos fugir, assim como o contador de histórias. Um escapismo permitido.
Decidi então me emaranhar por esse meio da escrita. Hoje em dia é simples ser um autor. Senta-se à frente do computador, abre-se o editor de texto e começamos. Mas é só isso mesmo? Não precisa de mais nada? Os mais conservadores diriam que se deve prezar pela técnica, os mais rebeldes, pela louca inspiração, muitas vezes movida a vinho ou uísque. Sempre ouvi dizer que os melhores autores se embriagam para escrever. Mas ao se fazer isso, como eles se lembrarão de que eles realmente escreveram essas poucas palavras?
Sabe, eu já escrevi poemas, poesias, e até uma saga. Essa aí me gera um certo desconforto, mas eu sempre aprendi que a máxima jornalística diz que não há somente uma versão para cada fato. Entretanto quando se trata de ficção, o autor se resguarda ao direito de onipotência duradoura de sua obra.
Esses dias um poeta me perguntou se eu ainda escrevia, em desconforto disse que não. Desconforto? Senti culpa por abandonar o papel? Não sei, mas preciso me sentir motivado a escrever, nunca publiquei nada, arquivos perdidos permeiam meu computador. Inícios de livros que nunca terão fim. Mas eu sempre fui assim, quando algo me desencanta, perco instantaneamente o interesse. Quando me canso da história de um circo mambembe, não quero mais vê-lo nem pintado de ouro, e o mesmo foi com o jovem garoto em aventura com sua avó, ou o mundo perdido de sei-la-o-que.
Decidi então dar sinal de vida, voltar a falar com alguém, nem que seja comigo mesmo. Não sei se escreverei um blog, manterei contato, ou perderei todo esse trabalho de uma madrugada quente que não pude dormir. Espero que não perca a vontade, porque sem ela, o homem não vive!